segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
Só ele para me definir, neste momento...
"Estou cansado (a)
Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E nao em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente,
De um cansaço ser só isto -
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida,
Do entendimento retrospetivo...
E a luxúria única de não ter já esperança?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito do que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.
Álvaro de Campos
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